terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Novo acordo ortográfico

Estava a deambular no facebook,quando dei com este texto de Manuel Halpern que está na rubrica o Homem do Leme no Jornal de Letras Artes e Ideias.
Aqui está uma boa forma de entendermos o acordo ortográfico ou pelo menos tentarmos.


"Um cê a mais

 Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. São muitos anos de convívio.

Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo?  Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar."

6 comentários:

  1. Inês,
    Compreendo a "embirração" com o acordo ortográfico, mas se por um lado tem pontos negativos (erros de transição, "palavras que não parecem o que soam") também vem o velho adágio de que burro velho não aprende linguas (mais por falta de vontade).

    Thomo por certo que manter a ortographia mui antiga não é mais patriótico que mudar. Se simplificar a nossa vida, e acompanhar o uso que damos no dia a dia, porque não?

    Conheci um professor inglês que veio do Canadá para Portugal porque queria ouvir a lingua que sabia ler (de forma básica) e veio aprender um pouco mais, que me dizia que a nossa língua é muito dificil, mas é estranho porque é "pequena" os ingleses têm muito mais palavras que nós. Acho que temos menos de 50.000 diferentes, ao passo que eles devem rondar as 200.000.

    ResponderEliminar
  2. Dizem que a nossa língua é das mais difíceis de aprender,mas caramba...é estranho.Ficam a faltar letras nas palavras.Não consigo entender isto,tanto que acho que deveria ter havido um referendo.
    É a nossa língua, a nossa identidade,ou era...é que até quase que fica mal dizermos que falamos a língua de Camões,que deve dar voltas no túmulo.

    ResponderEliminar
  3. Epá, mas antes do "cami" falávamos não se sabe bem o que, e os documentos oficiais eram em latim. se fores a pensar, será que o português "autêntico" não deveria ser o que falam na galiza?

    Lê os lusíadas originais, escritos em português de época. Não vais entender metade.

    ResponderEliminar
  4. Eu fico com os cabelos em pé, literalmente...acho que a lingua Portugesa sai desvirtuada com este acordo...
    Beijinhos,
    Sofia

    ResponderEliminar
  5. Deixa-me comichosa, pronto! É isso! :P

    ResponderEliminar
  6. A mim irrita-me solenemente!!!
    Irrita-me!!!
    O meu rico Cê e PÊ...tadinhos!!!

    ResponderEliminar